Minas Gerais é conhecida por seus templos barrocos e sua religiosidade popular. Cidades históricas são famosas pelas celebrações da Semana Santa, procissões, ruas enfeitadas, imagens ensanguentadas e figurantes vestidos a caráter, voltando à Jerusalém de dois mil anos atras. É um teatro, celebração, comemoração.
Mas não seria melhor trazer a Semana Santa para nossa realidade de hoje olhando a semelhança com aquilo que está acontecendo ao nosso redor nos perguntando se é necessário voltar ao passado se tudo acontece hoje do mesmo jeito; hoje temos milhões de filhos de Deus, não pregados numa cruz, mas numa cama de tratamento intensivo, entubados, com falta de ar como Jesus deve ter morrido na cruz quando suas pernas não aguentaram mais levantar seu corpo para inspirar mais uma vez. Hoje milhões de Marias estão sofrendo, chorando sem poder fazer nada para diminuir o sofrimento de seu ente querido ou salvar sua vida da morte eminente e inevitável.
Hoje são milhões de Nicodemos e Arimateos, vestidos de branco enterrando milhares de irmãos e irmãs num tumulo novo, não escavado na rocha, mas aberto no chão com uma retroescavadeira. Hoje temos um Pilatos que lava as mãos porque não quer perder sua posição política perto do imperador que por sua vez não tem sensibilidade humana nenhuma e não quer perder tempo e dinheiro com gentinho. Dois mil anos atras Jesus sofreu e morreu no seu corpo físico, humano, hoje o corpo místico de Cristo está ferido, machucado, sofrendo, morrendo e chorando seus mortos. Não precisamos encenações de antigamente, nem de teatro, Cristo continua sua paixão até o fim do mundo em milhões de doentes, pobres, famintos, desterrados, perseguidos e subjugados. Ele está morrendo cada dia em cada sofredor.
Mas ele ressuscitou: e nos, será que nós, após e por meio desta pandemia, será que nós ressuscitaremos em nos a humanidade, o altruísmo, o respeito pela humanidade e o planeta, a solidariedade entre todas as pessoas ou será que voltaremos aos antigos pecados e egoísmos? Não é possível que uma aula tão forte e exigente não mudou nada em nossa vida e que vamos repetir os mesmos erros, os mesmo egoísmos e injustiças.
Quem sabe que finalmente vamos deixar o Cristo ressuscitar em nosso coração com todo seu amor e fraternidade. Ou será que vamos continuar brincando de ser cristão fazendo da nossa vida um teatro, uma apresentação folclórica que não transforma, nem a gente nem a sociedade em que vivemos? Ser cristão não é folclore nem teatro, é vida real, vivida no dia a dia pelo nosso povo sofrido, é fraternidade universal que não deixa ninguém de fora, mas acolhe e ama a todos e a cada um segundo suas necessidades. Ser cristão é construir o reino de Deus aqui na terra para que um dia merece ser eternizado.
Por padre Lambert Noben – Pároco da Paróquia de São João Batista em Conselheiro Lafaiete