Por Éverlan Stutz, jornalista e membro da Academia de Ciências e Letras de Ouro Branco.
Conheci Geraldo Lafayette por meio do também saudoso e querido Alex Milagre. À época, trabalhava como professor de produção de texto na UNIPAC, no curso de jornalismo que formou grandes nomes da imprensa regional. Alex me apresentou Geraldo como o grande fomentador da cultura de Conselheiro Lafaiete. E não se tratava de um exagero. Geraldo transbordava arte e fazia dela sua vontade de potência. Era uma pessoa simples, com a típica erudição mineira. Geraldo era generoso. Essa aliteração faz mais sentido quando me lembro dele.
Agora Geraldo é memória, construiu uma história que motivou mentes e corações. Essa semeadura vai durar. Quem planta ludicidade neste mundo de escrotidão concreta sempre será rememorado. Afinal, a arte existe porque a vida não basta! E Geraldo é arte e sempre será. Seu legado vai além de aforismos ou frases de efeito. Geraldo era ação, um ator, um gestor, um homem das letras e do patrimônio cultural.
Tive a grata oportunidade de trabalhar em parceria com Geraldo Lafayette durante a restauração da Igreja da Passagem de Gagé, construção barroca do século XVIII, dedicada à Nossa Senhora da Conceição. No entorno da edificação, existia um povoado que, com o passar do tempo, foi desapropriado devido à expansão da atividade mineradora. O restauro do monumento foi realizado em parceria com a Prefeitura de Conselheiro Lafaiete, Fundação de Arte de Ouro Preto, Gerdau Açominas e Arquidiocese de Mariana.
A restauração foi viabilizada via Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado pelo Ministério Público de Minas Gerais com o acompanhamento efetivo do promotor de justiça Glauco Peregrino. Participamos de reuniões exaustivas para ajustar os procedimentos técnicos e metodológicos da restauração, cujo objetivo era entregar a igreja restaurada para a comunidade. Geraldo defendia a reconexão da população de Conselheiro Lafaiete com seus bens culturais de forma assertiva. Realizamos atividades de educação patrimonial com esse intuito, utilizando o teatro e a poesia para garantir o envolvimento comunitário na obra de restauro. As obras da Igreja da Passagem de Gagé, iniciadas em julho de 2006, foram concluídas graças à união de esforços por meio de ações cooperativas, coordenadas e colaborativas. A igreja foi restaurada e devolvida à celebração de missas em primeiro de outubro de 2009.
Em 2019 procurei a Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafaiete para ministrar o Aulão Solidário de Redação para o Enem na cidade. Mas quem acolheu e apoiou o projeto foi a Secretaria de Cultura por intermédio da querida Daisyluz Vieira e de Geraldo Lafayette. Não era uma atribuição da pasta que ele exercia, mas Lafayette não terceirizava responsabilidades e sabia reconhecer o que é realmente de interesse público. O projeto foi realizado duas vezes no Teatro Municipal Placidina de Queiroz e contou com a participação de centenas de alunos de escolas públicas do município. Além do compromisso social com a arte e a educação, Geraldo Lafayette fortaleceu o movimento teatral no interior de Minas Gerais, buscando sempre uma perspectiva de gestão compartilhada e em consonância com os anseios dos artistas da região.
Meu último contato com Geraldo Lafayette foi no dia 22 de abril deste ano. Telefonei para ele e pedi uma carta de apoio ao projeto Aulão Solidário de Redação para o Enem. Geraldo Lafayette prontamente emitiu o documento de respaldo institucional de forma precisa e generosa. Íamos realizar mais uma parceria em Conselheiro Lafaiete. A imprevisibilidade da vida não permitiu. Mas guardarei as palavras do Geraldo e sua solidariedade em versos e ações. Que o legado de Geraldo Lafayette ultrapasse fronteiras e gerações. Evoé, Geraldo.
Confira abiaxo entrevista de Geraldo Lafayete concedida ao canal HumaLinGia do Enem no Aulão Solidário de Redação realizado em 2021:
Éverlan Stutz é membro da Academia de Ciências e Letras de Ouro Branco, jornalista diplomado pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (1998), pós-graduado em Gestão do Patrimônio Cultural pela PUC Minas (2003), pós-graduado em Comunicação e Novas Tecnologias pela UNIPAC (2006), graduado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (2011), licenciado em Artes Visuais pelo Instituto Brasil de Ensino (2023).