Uma receita que deu errado durante um dos períodos mais desafiadores da história recente acabou se transformando em um verdadeiro tesouro da gastronomia mineira. Aos 39 anos, a empreendedora congonhense Gabriella Fernandes Palmieri Aarão viu nascer, em meio à crise da pandemia, o Bendito Licor — uma bebida artesanal que conquistou o paladar dos brasileiros e vem trilhando caminhos promissores até mesmo no exterior.

A história do Bendito começa em um momento de desespero. À frente de uma fábrica de doces que enfrentava sérias dificuldades financeiras, ela se deparou com um lote de 100 kg de doce de leite que não deu certo. Sem saber o que fazer, recorreu à fé. “Sou devota de São Bento e pedi a ele que me iluminasse com uma solução para aquele doce perdido”, conta. A resposta veio em sonho: misturar o doce com cachaça.
Assim nasceu o licor que hoje leva o nome de “Bendito”. A primeira leva, improvisada e vendida entre amigos e clientes, esgotou rapidamente. Apesar disso, a fábrica de doces teve que fechar. “Seis meses depois, em julho de 2021, recomeçamos apenas com a produção do Bendito”, relembra.
Licor com identidade mineira
Desde sua criação, o Bendito passou por ajustes para alcançar o padrão de excelência atual e conquistar o registro do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) — o que permitiu à empresa vender para todo o país. Atualmente, o licor está presente em mais de 100 pontos de venda, espalhados por 14 estados brasileiros, com projetos de exportação em andamento.
O segredo do sabor inconfundível está nos ingredientes. O doce de leite é feito artesanalmente na própria fábrica, exclusivamente para o licor, e a base alcoólica vem da cachaça mineira de alambique, sem corantes ou aromas artificiais. “Queríamos manter as características autênticas de Minas em cada garrafa”, afirma.
A produção é totalmente local, em Congonhas, e o rótulo estampa com orgulho a imagem da cidade. “Nosso principal público são turistas e pessoas que querem presentear com um produto genuinamente mineiro. Carregamos essa mineiridade com muito orgulho”, destaca.
Reconhecimento nacional e empoderamento feminino
O sucesso do Bendito não passou despercebido. Em 2025, o licor recebeu a medalha de Mérito Sensorial no New Spirits, a maior premiação de bebidas do Brasil. “Foi a consagração de todo o cuidado e dedicação que tivemos com a qualidade do produto. É a prova de que estamos no caminho certo”, comemora.
Outro reconhecimento marcante foi o Prêmio Mulher Além das Gerais, da Federaminas, que celebra o empreendedorismo feminino mineiro. “Estar ao lado de mulheres tão importantes foi indescritível. Esse prêmio representa a força das mulheres que conciliam negócios e família, além de reconhecer o trabalho de associativismo feminino que iniciamos com carinho em Congonhas, por meio da Acisc Mulher”, diz.
O futuro do Bendito
O ano de 2025 começou com um passo ousado: investimentos em novos maquinários que permitirão triplicar a capacidade de produção. E as novidades não param por aí. A empreendedora antecipa que um novo sabor do Bendito será lançado em breve, reforçando a proposta de inovação com raízes nas tradições mineiras.
Do erro ao acerto, do desespero à fé, da receita improvisada ao reconhecimento nacional o Bendito Licor é mais que uma bebida: é uma história de resiliência, sabor e identidade.